Portugueses refugiam-se na habitação: riqueza quase duplica em 10 anos

O imobiliário é considerado um refúgio financeiro para investidores e famílias, sobretudo, em tempos de crise. E tanto assim é que a riqueza das famílias portuguesas investida na habitação não tem parado de crescer desde o final de 2015, atingindo, em média, os 179 mil euros por agregado no segundo trimestre de 2023. Contas feitas, riqueza habitacional das famílias aumentou 68% nos últimos dez anos, tendo registado o maior valor de sempre pelo Banco Central Europeu (BCE) desde 2010. Por tudo isto, o imobiliário acaba por representar a maior fatia de património líquido das famílias residentes em Portugal.

No rescaldo da última crise financeira, a riqueza das famílias na habitação foi caindo trimestre após trimestre, perante a subida dos incumprimentos bancários e desvalorização do imobiliário. Mas depressa as famílias voltaram a confiar no imobiliário e, em particular, na habitação.

Desde o final de 2015 até meados de 2023, a riqueza das famílias na habitação foi sempre crescendo,  à exceção do trimestre imediatamente após o início da pandemia, segundo mostram os dados mais recentes do BCE. E subiu tanto que registou, no segundo trimestre de 2023, uma riqueza habitacional média de 179 mil euros por família, um valor 5% superior face ao período homólogo e 31% maior que o registado no mesmo período de 2019 (antes da pandemia).

Se recuarmos dez anos, verificamos que as famílias têm hoje um património habitacional 68% mais rico. E salta ainda à vista que nunca antes os agregados havia confiando tanta riqueza à habituação, uma vez que este é mesmo o maior valor registado pelo regulador europeu na sua série de dados que remonta a 2010. Uma maior procura de casas para comprar, bem como a subida dos preços ao longo deste anos pode ajudar a explicar estes valores.

Habitação pesa 66% no património dos portugueses e europeus

Este aumento gradual do valor do património imobiliário tem também sustentado a subida do património líquido das famílias ano após anos, que atingiu, em média, 271 mil euros na primavera de 2023. Em concreto, a habitação pesa mais de dois terços no património líquido dos portugueses – o maior peso entre todas as categorias, seguido dos depósitos.

Também na Europa verifica-se que o imobiliário é onde as famílias mais depositam a sua riqueza, já que representam cerca de 66% do património líquido dos europeus. E são mesmo os eslovacos e os holandeses que concentram maior riqueza em imóveis (cerca de 80%), escreve o ECO. Já a Itália e a Letónia são os que apostam menos neste segmento (54% e 45%, respetivamente).

Mas nem tudo é similar ao espaço europeu: a riqueza média líquida das famílias portuguesas é mesmo a sexta mais baixa da Zona Euro, estando apenas à frente da Estónia, Eslováquia, Grécia, Lituânia e Letónia. Apesar da riqueza das famílias em Portugal estar a subir – e até acima da média euro -, este valor continua a ser 30% abaixo da média da área euro, refere o mesmo jornal. Os agregados que tem maior riqueza média são mesmos os luxemburgueses (1 milhão e 451 mil euros), irlandeses e belgas (acima de 560 mil euros)