Crédito a taxa variável: famílias com menores salários pesam 8%

Do total das famílias com crédito habitação, cerca de 30% tem taxa de juro variável, diz BdP.

O governador do Banco de Portugal disse na sexta-feira, dia 16 de dezembro, que o impacto do aumento das taxas de juro nas famílias de menores rendimentos pode ser “um certo mito”, dado que representam apenas 8% das famílias com crédito a taxa variável.

“O efeito das taxas de juro nas famílias de menor rendimento pode ser um certo mito, que temos de alguma forma enquadrar”, disse Mário Centeno, em Lisboa, durante a apresentação do “Boletim Económico” de dezembro, do Banco de Portugal (BdP), que integra uma análise sobre o impacto da subida dos juros nas famílias.

Segundo a análise do supervisor bancário, do total das famílias com crédito à habitação, cerca de 30% tem taxa de juro variável.

Destes 30% de famílias com taxa variável, mais de metade pertence às famílias dos dois níveis com maiores rendimentos, enquanto apenas 8% pertence às famílias de menores rendimentos.

Em todas as faixas destes rendimentos, a pessoa de referência está empregada em pelo menos 85% das famílias e tem o ensino secundário ou superior em pelo menos 40%.

“No subconjunto de famílias com dívida a taxa de juro variável, a variação do rendimento em 2022 não é muito diferente, em euros, da do conjunto das famílias, mas a variação do serviço da dívida é, naturalmente, muito superior em todos os quintis”, assinala o BdP.

Na análise do supervisor, em 2023, entre as famílias com empréstimos a taxa variável, “não há diferenças assinaláveis entre os vários quintis na variação percentual do rendimento”, com 6,1% no primeiro quintil e 5,4% no último.

“Os resultados do exercício sugerem que a generalidade das famílias consegue manter um volume de consumo de bens essenciais igual ao de 2021 e satisfazer o serviço da dívida a partir do rendimento corrente, sem pôr em causa outro tipo de despesas”, explica.

A análise do BdP conclui ainda que, em média, as famílias com crédito a taxa variável com os rendimentos mais baixos detêm mais ativos reais e financeiros do que as da faixa de rendimento seguinte.

Destas, o representante de 40% das famílias de mais baixos rendimentos trabalha por conta própria e destes 70% são empregadores.

“Apenas 46% dos representantes das famílias com menos rendimentos são empregados por conta de outrem, o que contrasta com mais de 74% em todos os restantes grupos de rendimentos”, assinala.

O retrato das famílias com crédito a taxa variável revela ainda que a profissão mais frequente nas de menor rendimento é a dos dirigentes e membros de órgão estatutários (21%), enquanto nas famílias de rendimentos mais elevados é a de especialistas das atividades intelectuais e científicas (28% no 4.º e 43% no 5.º quintis).

O BdP indica ainda que estas famílias têm níveis de dívida semelhantes, entre 56 mil e 68 mil euros, exceto as da faixa de rendimento mais elevado, com 83 mil.

Em média, as famílias com taxa de juro variável têm prestações anuais próximas dos 4.500 euros (do 1.º ao 4.º quintil), pelo que as taxas de esforço face ao rendimento disponível são “baixas”: 23% para as de menores rendimentos (18 mil euros), caindo até 9,4% para as de maior rendimento.