Conflito entre a Rússia e a Ucrânia: como afeta o crédito habitação?
A guerra na Ucrânia está a fazer disparar a inflação e poderá pressionar a subida de juros. Como vai afetar a prestação da casa?
A invasão da Ucrânia pelas tropas russas está a trazer consequências, a vários níveis, para as economias europeias e do mundo. E uma das já visíveis passa pela aceleração da inflação, que, aliás, tem estado em alta nos últimos meses, tendo mesmo atingido recordes na zona euro, em janeiro. A incerteza volta a pairar sobre os mercados e sobre as famílias, sobretudo aquelas que têm empréstimos da casa e as que pretendem contratar em breve um crédito habitação para comprar casa. Quais são os cenários possíveis em cima da mesa? Poderá a taxa de juro subir para travar a inflação? Explicamos com a ajuda de especialistas.
São muitas as famílias que se questionam se a guerra na Ucrânia terá impacto no custo do financiamento bancário e se poderá haver um aumento nas taxas de juro – e consequentemente na prestação da casa. E a resposta é que a se a inflação continuar a subir de forma descontrolada, o Banco Central Europeu (BCE) pode ver-se forçado a aumentar as taxas de juro na zona euro – como vinha mesmo a admitir já antes do cenário de guerra atual – o que irá impactar os créditos habitação de taxa variável novos e existentes e, portanto, fazer subir as prestações da casa a pagar.
Qual a evolução das taxas da Euribor dos créditos habitação?
A maioria dos novos créditos habitação em Portugal estão indexados à Euribor a 12 meses que voltou a cair depois de encerrar fevereiro de 2022 com o seu valor mais alto dos últimos 20 meses. De momento, esta taxa está nos -0,377%, enquanto no final de fevereiro se fixou nos -0,349%.
Já a Euribor a 6 meses está hoje nos -0,485%, enquanto no final de fevereiro se situou nos -0,493% . Note-se que no universo total de empréstimos para comprar casa em Portugal, a maior parte dos créditos está indexada à Euribor a 6 meses.
As referências para taxas fixas estão a cair para 0,7% no caso do prazo de 10 anos, 0,87% para o prazo de 15 anos, 0,85% para o prazo de 20 anos e 0,7% para o prazo de 30 anos.
Quais são as atuais taxas de juro dos empréstimos da casa?
Dada a incerteza instalada no panorama atual – primeiro pela pandemia e agora com a guerra na Ucrânia -, uma das questões que surge passa pela escolha da taxa de juro. Há quem pondere mudar de taxa variável para taxa fixa para ganhar estabilidade, embora a primeira ainda compense. Mas a verdade é que este tema deve ser analisado, sendo que não há uma resposta única para esta questão, já que é uma decisão que terá ser tomada tendo em conta várias variáveis e o caso concreto de cada família.
No mercado português, é possível encontrar créditos habitação de taxa variável com spreads inferiores a 1% – que, note-se, deverá ser somado ao indexante (Euribor) sendo que o resultado final é a Taxa de Juro do Empréstimo, designada por Taxa Anual Nominal (TAN). Já no que diz respeito a taxas fixas a 30 anos, podemos encontrar ofertas entre 1,50% e 1,70%, explicam os mesmos especialistas.
Poderá haver subida das taxas de juros pelo BCE?
O futuro das taxas de juro dos créditos habitação está nas mãos do BCE, que antes de eclodir a guerra na Ucrânia admitiu estar disposto a aumentar a taxa de juro diretora para travar a subida da inflação. Segundo os dados do Eurostat recentemente divulgados, em janeiro a inflação na zona euro bateu um novo recorde atingido os 5,1%. Neste cenário, Portugal está na cauda da Europa, registando a segunda taxa mais baixa (3,4%) entre os Estados-membros da União Europeia (UE).
A escalada de inflação está a pressionar o BCE a tomar novas medidas macroprudenciais, mas nenhuma decisão foi ainda tomada, até porque o novo conflito armado veio colocar novas variáveis na equação. O desafio está agora em aplicar medidas para manter os preços sob controlo sem prejudicar o crescimento económico. Mas do outro lado do mundo já há decisões tomadas. A Reserva Federal dos EUA planeia aplicar um aumento de taxa de juro em março, apesar do impacto económico que a guerra na Ucrânia poderá trazer.
“O impacto real do conflito no mercado de crédito habitação vai depender de como o BCE afetará as taxas de juro em resposta ao fenómeno da inflação. Uma subida das taxas de juro no médio prazo é algo cada vez mais provável, resta saber quão será essa subida e consequentemente o seu impacto no mercado de crédito”.
“A Euribor continua negativa, mas olhando para frente, a tendência da inflação será decisiva. Se o nível atual se tornar estrutural, será inevitável haver uma intervenção do BCE nas taxas de juro e o que terá impacto direto nos créditos com taxa variável, tanto para quem já tem um empréstimo, como para quem o irá contratar no futuro “, destacam desde o portal italiano Facile.it. Neste artigo podes entender melhor o que é a Euribor.
Já há bancos a tomar medidas na Europa…
Muito embora o futuro seja incerto, já há bancos na Europa a tomar medidas prevenidas. Na vizinha Espanha, vários bancos já estão a mudar a sua estratégia antecipando um futuro aumento das taxas de juro. A ideia passa por melhorar as condições dos seus empréstimos com taxas variáveis, em muitos casos em detrimento das taxas fixas. O Bankinter, o BBVA e o Evo Banco, por exemplo, alteraram recentemente as taxas de juro da sua oferta de crédito habitação.
Esta nova tendência surge depois dos bancos espanhóis terem registado um número recorde de empréstimos a taxa fixa para aquisição de habitação em 2021. E num momento em que as taxas de juro fixas e variáveis estão a tomar caminhos diferentes. Em Espanha, a taxa fixa média está atualmente em 2,8%, depois de atingir o mínimo histórico em setembro de 2021 (2,65%). Já a taxa variável média está em 2,08%, o menor valor de sempre.
Retirado do Idealista – Adaptado por Dicas Imobiliárias
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