Procura de terrenos rústicos prosperou em Portugal
O interesse por comprar terrenos, sobretudo rústicos, tem vindo a aumentar em quase todos os distritos de Portugal Continental. O contexto de pandemia é apontado como a grande justificação para esta tendência.
A pandemia da Covid-19 veio trazer algumas variantes às tendências de investimento das famílias portuguesas que, agora, almejam ter mais espaço interior para o teletrabalho, para o estudo, tudo conjugado com zonas de exterior para relaxar. Adquirir um solo classificado como rústico, seja para exploração agrícola, florestal, energética, cultural e paisagística passou, também, a estar em cima da mesa.
Um estudo mostra que, durante a pandemia, a procura por terrenos rústicos, onde é possível cultivar alimentos, cuidar de animais ou plantar árvores, aumentou consideravelmente. Os dados referem-se aos 18 distritos de Portugal continental e mostram variações existentes entre a procura, os preços unitários e stock existente nestes tipos de solos entre março de 2020 e março de 2021.
“O aumento da procura por terrenos é evidente neste ano de pandemia, o que fez com os preços também subissem. Ao compararmos os dados de 2019, antes do aparecimento da Covid-19, e os dados de hoje, percebemos que há um interesse claro nos terrenos, seja para construção de habitações com mais espaço interior e exterior, assim como os terrenos rústicos, para cultivos, considerando que a atividade agrícola se provou resiliente em tempos de pandemia”.
De resto, o regresso à agricultura, nomeadamente o surgimento de pequenos projetos agrícolas, tem vindo a ganhar um maior relevo. A título de exemplo, ao longo do ano de 2020 o Estado efetuou pagamentos ao sector agrícola e florestal no valor de 1582 milhões de euros, o que representa um acréscimo de 168 milhões de euros face ao ano anterior.
Procura por terrenos rústicos sobe em todos os distritos
A procura por terrenos rústicos subiu em todos os distritos de Portugal continental, sem exceção, segundo esta análise. E em exatamente metade dos distritos verificou-se que a procura mais do que duplicou durante a pandemia, apresentando variações acima dos 100%. São eles Faro (+250%), Setúbal (+186%), Vila Real (+171%), Castelo Branco (+165%), Bragança (+161%), Aveiro (+152%), Beja (+131%), Viana do Castelo (+124%) e Coimbra (+106%). A menos expressiva foi registada em Portalegre, onde só evoluiu 19%.
Já variação de stock de solos rústicos é mais heterogénea do que nos terrenos urbanos – variando entre +93% (em Braga, onde a procura subiu 93%) e -20% (em Évora, distrito que registou um aumento da procura de 165%).
A par da procura, os preços unitários dos terrenos rústicos também subiram na maioria dos distritos em análise – em concreto em 13 distritos dos 18. A subida mais expressiva foi mesmo em Portalegre (de 51%), onde o valor dos terrenos rústicos cresceu de 2,5 euros/m2 para 3,7 euros/m2. Lisboa registou a segunda maior subida neste período – de 49% – com os preços a atingir os 10 euros/m2 em março deste ano. Vila Real ocupa o terceiro lugar com uma variação de 37%, fixando o preço dos solos rústicos em 6 euros/m2. “Neste panorama, houve apenas quatro distritos onde os valores dos terrenos deste tipo colocados no mercado em março de 2021 é menor do que no período homólogo: Guarda (-12%), Braga (-11%), no Porto (-10%) e Aveiro (-6%)”.
O que os dados também mostram é que, pelo contrário, os preços unitários destes terrenos em março de 2021 são, na sua maioria, inferiores aos registados antes da pandemia, ou seja, em março de 2019. Os analistas observam que esta é uma tendência que se verifica em 11 distritos, sendo que as maiores variações foram registadas em Bragança (-67%), Braga (-64%) e Viana do Castelo (-61%). Há ainda um distrito sem registar diferenças – Beja. Nos restantes seis, os valores dos solos rústicos em 2021 são ligeiramente superiores aos registados em 2019 – assumindo variações entre os 5% e os 15%. Para os especialistas do idealista/data, a Guarda é um caso particular. Isto porque, foi o único distrito a apresentar em março de 2021 um preço unitário mais baixo do que no mesmo período do ano passado, (-12%), mas superior a março de 2019 (5%).
Terrenos nas imediações dos centros urbanos mais procurados
Rui Felgueiras, do Millennium bcp, confirma que, nos terrenos rústicos para cultivo, agrícola e florestal, tem havido um ligeiro aumento de procura, mas sem reflexo ou uma quase inexistência de subida dos valores de referência nas transações. Já Carlos Nunes, da mesma entidade bancária, confirma o aumento da procura para terrenos rústicos e agrícolas em 2021, com especial enfoque para os que se localizam nas imediações de centros urbanos e de preferência com bons acessos. “Por vezes, a dimensão do terreno em causa acaba por ser mais relevante e determinar a rentabilidade da exploração que se pretende instalar”.
Apoios e fundo promovem interesse
Ao longo dos dois últimos anos, o enquadramento de alguns projetos agrícolas e de floresta com recurso a apoios e fundos da PRODER disponíveis, têm servido para impulsionador alguns segmentos como a instalação de jovens agricultores, incentivar à criação e desenvolvimento de microempresas nas zonas rurais, em vários segmentos e até pequenos projetos mistos de turismo sustentável e de exploração agrícola. “Tal enquadramento, tem despertado o interesse e a procura por terrenos rústicos”, afirma Rui Felgueiras.
Sendo que, Carlos Nunes, destaca um outro aspeto que a pandemia realçou: algum êxodo das grandes cidades para as zonas de interior e em muitos casos para zonas eminentemente agrícolas, principalmente de pessoas com atividades profissionais passiveis de serem desenvolvidas de forma remota. “Este fenómeno, que ainda se verifica, acabou por provocar uma maior procura por terrenos com características agrícolas e sem qualquer capacidade construtiva atual”.
Retirado do Publico – Adaptado por Dicas Imobiliárias
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